
Pra ela eu contava qualquer tipo de coisa com o coração todo aberto,  porque eu sentia de forma muito clara a facilidade e o acolhimento com  que me ouvia. Um bom confidente, às vezes, é apenas aquele que nos  deixa livres para dizermos tudo o que quisermos sobre nós, inclusive  bobagens das quais talvez nos arrependamos logo depois de dizê-las. Às  vezes, é apenas aquele que interage com o nosso sentimento da vez, sem  estar com a razão toda arrumada para análises profundas, tiradas  magníficas, sermões eloquentes, dos quais nem sempre precisamos. Um bom  confidente, essa maravilha rara, é aquele que aproxima, generosamente, a  vida dele da vida da gente e, apesar da mágica interação que acontece  com essa proximidade, consegue manter a distância necessária para não  confundir a sua história com a nossa. Há momentos em que a gente só precisa falar e se sentir, de verdade, ouvido. Só isso. Só isso tudo.
Ana Jácomo
06/11/2011