27 de março de 2011

Soltos e amarrados


E eles sabiam que voltariam a se encontrar. Sabiam que todo aquele sentimento não havia passado, muito pelo contrário, estava guardadinho ali no peito, disfarçado. Mas também sabiam que, por algum motivo, eles não poderiam ficar juntos. Talvez, por isso, se queriam ainda mais.
Ela seguia sua vida buscando em cada esquina, o olhar dele, o cheiro dele, a boca dele.
Ele, na tentativa de esquecê-la, se afogava na bebida e no corpo de outra mulher.

Só que o destino os colocavam sempre na mesma estrada, mesmo quando não queriam. Vezenquando se esbarravam por aí nas ruas, se olhavam, mas não se cumprimentavam, com medo que as pessoas descobrissem o que realmente sentiam. E esses olhares eram sempre demorados. Um engolindo o outro. Dizendo tudo, sem dizer nada.

Às vezes, no meio da noite, um toque no celular era a promessa de amor dos dois. Só um toque. Só pra saber que um ainda pensava no outro. Ou os dois pensavam ao mesmo tempo. Quem sabe? Eram tão parecidos, que poderia até existir mesmo essa comunhão de almas.
E assim continuavam. E assim, ainda se queriam. Longe dos olhos dos outros. Embaixo dos olhos de Deus. E essa promessa de amor ainda vivia no coração de cada um. E essa promessa não poderia ser quebrada (talvez porque fora feita diante de uma estrela cadente). Porque um precisa do olho do outro pra continuar. Porque um precisa do sorriso do outro pra ser feliz. Porque, vezenquando, um precisa ouvir um toque do celular. Da voz do outro dizendo que está tudo bem, que vai passar, que é assim.

Eles sabem que, nesta cidade, estarão para sempre amarrados. Embora soltos.


Cris Carvalho
27/03/2011

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